Pedofili@
As leis contra crimes na internet são brandas e a polícia não consegue prender os criminosos. É você quem tem de ajudar seu filho a se proteger contra a rede mundial depedofilia. Prepare-se para agir nesta guerra de forma inteligente
Patrícia Zaidan | Foto Carlos Cubi
A IMPUNIDADE
O anonimato dos internautas e a velocidade das informações transformaram a rede no paraíso da pedofilia. Segundo o técnico em informática Anderson Miranda, no mundo existem 6,2 mil sites ligados ao tema. Cada um contém, em média, 900 fotos e 300 vídeos, o que alimenta o mercado do sexo virtual. "Muitas imagens são trocadas gratuitamente, mas os colecionadores querem raridades e pagam às máfias 100 dólares por uma foto e mil dólares por um vídeo inédito." Miranda e a mulher, a advogada Roseane, criaram o site Censura para orientar pais e colaborar no combate ao crime. De dezembro a fevereiro, o www.censura.com.br recebeu 720 denúncias, que foram encaminhadas ao Departamento de Polícia Federal, em Brasília. "Fazemos esse trabalho há oito anos, mas nunca vimos a condenação de um único suspeito", diz ele. Onias Tavares de Lima, diretor do Núcleo de Perícias de Crime de Informática da polícia paulista, responsabiliza os provedores de acesso à internet pela impunidade. "Essas empresas não têm boa vontade e atrapalham a investigação", afirma. "Como não há uma lei que obrigue o provedor a abrir o cadastro dos clientes, os policiais procuram um pedófilo como quem busca uma agulha no palheiro." O delegado Adauto Martins, coordenador da Divisão de Repressão a Crimes Cibernéticos da PF, explica: "Temos que pedir ajuda ao Ministério Público e à Justiça para que o provedor revele o endereço de conexão. Muitas vezes, porém, não o localizamos, porque a identificação de um computador pode mudar no momento em que ele é religado". Para virar o jogo, Anderson e Roseane fazem um abaixo-assinado.
"Com 1,6 milhão de assinaturas, apresentaremos ao Congresso um projeto de emenda popular que obriga as operadoras de telefonia e os provedores a bloquearem a pedofilia", conta a advogada. Enquanto as leis não são alteradas, os policiais recomendam explicar aos filhos como o assunto é intrincado. "Eles precisam saber que colaboram com o crime", avisa o delegado. "Um adulto pode levar uma adolescente à masturbação diante de uma webcam e depois comercializar as imagens", revela.
O perfil do pedófilo é diferente do perfil do molestador. "O pedófilo pode manter seus desejos em segredo por toda a vida sem nunca passar ao ato real ou cometer crimes", afirma Ilana Casoy, do Nufor, um núcleo de pesquisas em psiquiatria forense da Universidade de São Paulo. "O diagnóstico se confirma quando o indivíduo tem, por no mínimo seis meses, fantasias excitantes e recorrentes ou comportamentos envolvendo atitude sexual com crianças pré-púberes." É um sujeito que gosta de contar histórias, tem paciência e adora se tornar importante na vida das crianças, o que o torna ainda mais perigoso.
A SEXUALIDADE
Nem sempre a pedofilia foi vista como uma patologia. Desenhos pré-históricos revelam adultos em êxtase numa relação com impúberes. Já na Idade Média, cabia aos guerreiros ensinar aos meninos não só técnicas de combate como também filosofia, astronomia e a prática do sexo. Mas, na nossa cultura, a preferência sexual por crianças é considerada uma desordem psicológica. Parece haver uma marcha para reverter essa colocação e a internet virou um instrumento de campanha. A psicanalista e doutora em comunicação semiótica, Fani Hisgail, que no fim do ano lança o livro Pedofilia - Um Estudo Psicanalítico, afirma que a pornografia infantil virtual amplia a linguagem do pedófilo. "A exposição é excelente para ele. É uma tentativa de quebrar os tabus e as restrições em torno do sexo entre adulto e criança, de tornar culturalmente aceitável esse envolvimento." Provavelmente por isso, tem crescido o aliciamento na rede.
A comerciante Suzana Mariano conta que a filha Maria, 10 anos, brincava no site da Barbie quando teve a tela invadida por um quadro que a levou a um site de pornografia infantil. Movida pela curiosidade, passou a percorrer vários links com cenas picantes. É tudo muito fácil. Se ela digitasse num site de busca a palavra Mickey, poderia dar de cara com o ratinho em situações eróticas e desenhos obscenos para pintar. A etapa seguinte seriam os filmetes de abuso sexual. Ao mesmo tempo que chocam, também excitam. "Os pais não devem se escandalizar nem adotar punições", adverte Oswaldo Rodrigues Jr., presidente da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. "As experiências sensoriais genitais se dão desde o nascimento. Estudos de Alfred Kinsey, de 1948, comprovam que um bebê que tem controle motor para tocar os genitais apresenta respostas fisiológicas, como pupila dilatada, ruborização da face e freqüência respiratória alterada", afirma. "Por isso, não se pode condenar um jovem que se excita vendo imagens no computador." Mas Suzana não sabia como reagir: "Dei uma bronca terrível, desliguei o computador e providenciei um filtro para impedir que Maria voltasse a navegar por aqueles horrores". Ágeis para lidar com a informática, muitos jovens descobrem meios de burlar os programas de filtro ou passam a usar o computador dos amigos. "O que a família deve fazer é se preparar para falar com os filhos sobre sexo", diz Rodrigues Jr. A conversa, ressalta, não pode ser fria como uma aula de biologia nem tratar apenas de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce. "Educação sexual só funciona se estiver baseada no afeto e na sinceridade. Do contrário, a criança deixa de confiar no adulto e vai buscar informação onde sabe que não há restrições e ainda lhe rende um ganho: o prazer." Rodrigues Jr. desmonta o mito de que tratar do assunto antecipa a vida sexual dos filhos. "O adolescente bem orientado fará sexo três ou quatro anos mais tarde que a média." Mas essa não é uma tarefa fácil. Fani Hisgail assegura que, se a mãe não está tranqüila com a própria sexualidade, não consegue ajudar as crianças. Há outro fator importante: falar na medida certa. "Diálogo aberto não significa dar detalhes das atividades na cama.
A criança deve entender, desde cedo, que o sexo não é algo público, mas privado. A mãe pode contar que ele está associado ao carinho, à emoção e que completa a ligação de duas pessoas que se amam." Fani recomenda ainda compreender o contexto em que vivem os nossos filhos. Com a falta de perspectivas e de trabalho, um adolescente de 16 a 18 anos gasta um tempo excessivo no computador. Ao repassar para os amigos imagens e novos endereços que contêm sexo quer demonstrar poder e superioridade, porque detém algo que o grupo desconhece. Sob o ponto vista emocional, há o risco de ele se fechar no mundo virtual, trocando o prazer obtido na relação física pela excitação alcançada apenas na internet. Já a criança, segundo Oswaldo Rodrigues Jr., pode introjetar o mau modelo visto nas cenas de violência sexual. "Na fase adulta, talvez procure um parceiro inadequado, acreditando no paradoxo: para ter algo de bom, que satisfaça, é necessário sofrer." Mais uma forte razão para tomar a dianteira e se encarregar, você mesma, da educação sexual do seu filho.
CARTILHAESPERT@
A HackerTeen (www.hackerteen.com.br) que oferece um curso sobre segurança da computação e ética, está lançando uma cartilha para alertar os jovens. "Gente da nossa idade, quando está jogando no computador, fica em outro mundo", confessa Carlos de Oliveira, 14 anos, um dos autores do texto, ilustrado com recursos de mangá. "Tudo pode acontecer: desde revelar endereço, telefone, CPF e senha até receber uma foto que traz um programa auto-executável que aciona a webcam", diz. A câmara passará a captar imagens do adolescente na intimidade do seu quarto sem que ele perceba. "Ele fica na mão do pedófilo, que passa a fazer chantagens." A colega Juliana Magalhães, 17 anos, recomenda que a webcam fique virada para a parede. Ela sugere às mães que deixem o computador em área da casa onde a família circula e ainda que observem com quem as crianças conversam online. A cartilha adverte os internautas que se arvoram a combater a pedofilia a não roubar a senha de um freqüentador dos sites especializados com o objetivo de invadir e destruí-lo. "O justiceiro tenta reprimir o crime com outra ilegalidade e acaba apagando as provas que podem incriminar o dono do site. O melhor a fazer é denunciar à polícia."
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